Capítulo 1

Eu claramente consigo me conter até a coroação, mas não consigo ficar parada quando algo enorme está a meu aguardo. Estou tão concentrada pensando em como irei governar que não estou prestando atenção suficiente para o conselho hoje, de minuto em minuto eu olho para a pequena janela aberta à minha direita
— Princesa Felicity, o que acha? — um dos conselheiros me chama a atenção — às leis quanto a roubo são muito brandas, fracas
— faça com que os ladrões paguem um preço alto, um preço que não conseguirão pagar — me rencosto na cadeira acolchoada, já sem paciência — mais alguma coisa?
— sim! — disse o conselheiro barbudo a três cadeiras a minha direita — quando iremos ver o casamento?
— que casamento? — levantei uma sobrancelha
— o seu ora bolas — estreitei os olhos como um aviso para seu modo de falar comigo, ele rapidamente se endireitou pedindo desculpas — o rei Celiandrie nos disse para preparar a futura rainha para um casamento
— eu cuido disso com ele depois, a reunião acaba aqui
Me levanto pressurosa fazendo assim que todos os seis conselheiros se levantem, saio da sala de reunião enorme com passos ágeis e frenéticos sem falar mais nenhuma palavra, ando apressada pelo enorme corredor de cerâmica e ouro passando pela criadagem que fazia reverência, e vou direto para a sala de meu pai, abro bruscamente uma das duas portas reluzentes, atravesso o enorme cômodo decorado com tons madeira, clássico, e tombo minhas mãos em sua mesa fazendo o barulho ressoar alto e a mesa tremer um pouco.
Meu pai me olha despreocupado e se desleixa na cadeira
— algum problema com o vestido ou… — o interrompi
— que merda é essa que eu vou me casar?
— são as leis minha querida, vai ter de se casar — deu de ombros
— não, essas não são as leis, eu as estudei várias e várias vezes e não vi nada comparado a isso
— poderia se sentar e parar com essa fisionomia de louca? Está simulando um selvagem
Eu retiro as mãos da mesa fazendo um pequeno chiado agudo com as unhas levando meu pai a se serpentear sutilmente na cadeira de madeira acolchoada, endireito minha postura e paro com os braços ao lado do corpo com as mãos cerradas, me sento gentilmente na cadeira ao meu lado cruzando as pernas e o encarando sórdida
— minha filha… — ele se endireitou — pense bem, se você se casar com o príncipe James poderá ter mais força e poder, o reino de de Nosirion é cheio de riquezas e é um reino forte
— somos o maior e mais rico dos quatro reinos, o que ele tem demais? Terras que não é
— Felicity, minha filha, o povo te ama, mas imagine você e o príncipe James, dois reinos em um, você comanda tudo, ele assiste
— para que exatamente é esse casamento papai?
— o povo se sentirá mais confortável se você tiver um rei no trono contigo — ele fica agitado na cadeira — Nas aparências ele manda, mas na realidade ele é seu peão
Me levanto cansada, mas sem demonstrar
— papai, a não ser que me dê um bom motivo para casar com aquele imprestável… — me endireito e dou um sorrisinho — ...eu não me caso, e ainda sou coroada sua rainha. De acordo com as leis
Saio em um rompante para fora daquele cômodo indo para meu quarto, preciso de tempo e espaço, ou eu mesma acabo com minha vida sem precisar de homem.
Tiro o vestido o trocando por uma calça de couro colada e uma blusa bufante branca, coloco meu corsete preto com renda e calço minhas botas, desmancho o penteado que a camareira fez em meu cabelo, uma bela trança coroa, e o prendo em um rabo de cavalo apertado
Vou até meu guarda roupa afastando a maioria dos vestido bufantes e anáguas, tapeando o guarda roupa até que consigo colocar a mão no fundo para pegar o que preciso, mas ouço a porta bater, dou um pulo de susto e acabo batendo a cabeça na porta do objeto
— senhora, sou a Luiza, vim arrumar o quarto — droga, esse quarto já está arrumado 
— só um momento — vou até a porta destrancando-a e pondo apenas a cabeça para fora com um sorriso — agora eu não poderei deixar você entrar, volte mais tarde, obrigada
Fecho a porta antes dela falar alguma coisa mais, coloco o ouvido na porta pra verificar se ela ainda está lá e percebo que já se fora
Volto para o guarda roupa e afasto um fundo falso pegando uma adaga e um canivete colocando os dois na bota de couro e coloco tudo de volta no lugar, tranco o quarto e começo minha busca por onde sair
Por causa da coroação — ou a merda do noivado — meu pai tinha colocado mais guardas às espreitas e guarda costas para me seguirem, então não poderia sair como de costume
Se eu for pela janela vai ser óbvio me notar, mas se eu conseguir um manto velho poderei sair pela porta dos criados — mas terei o risco de ser parada — tudo tem um risco e uma variante e eu não posso me arriscar a ser vista de novo e trancafiada, mas esse castelo é velho o bastante para ter...
— as entradas que mamãe me ensinou — sussurro
Eu lembro de quando era pequena o suficiente para recordar que mamãe tinha me ensinado várias coisas sobre o castelo, o reino e a terra natal dela, me mostrara fotos de vovó e vovô e da tia Lúcia. O castelo foi construído após uma guerra, passagens foram feitas para proteção da família real e seus convidados e protegidos
Tentei me lembrar do que mamãe tinha dito sobre isso, então vi um pequeno candelabro empoeirado no canto do quarto que eu nem vira alí antes, caminhei até o objeto tentando fazer que a coisa se movesse, mas estava emperrada
— Felicity querida, está aí? — meu pai bateu a porta, calmo a princípio, mas a medida que o tempo passava e eu não respondia sua calma se desvairava — Felicity abra a porta do quarto
— hum... Só um momento papai — merda merda merda, fudeu
Peguei o vestido jogado rapidamente no chão e o vesti de qualquer jeito, o molhri um pouco e tentei parecer desleixada, apenas para dar a impressão que estava ocupada. Fui até a porta e a destranquei pondo apenas a cabeça para fora, a mulher ao qual eu tinha ligado a voz estava atrás de meu pai com um semblante neutro, mas debochado
— algum problema? Papai! — apareci a porta com o vestido meio molhado e ele virou o rosto envergonhado, assim como a criada — alguma fofoca malvada chegou aos seus ouvidos?
— eh... Uh... Não, meu bem. Não não não — meu pai continuou olhando para os pés, seu rosto estava vermelho igual tomate — é que eu soube que você não queria deixar a empregada fazer o trabalho dela
— pelo visto ela tem focado em outras coisas, não no trabalho dela — olhei a moça atrás de meu pai com um olhar gélido — procure cuidar da sua vida Lu-i-za
— mas senhora, eu...
— não que seja para seu bico miserável, mas eu estava tentando relaxar antes de tomar uma decisão importante, o qual você acabou interrompendo — tentei chegar mais perto da criada mas meu pai se colocou no meio, então eu gritei para que todos pudessem me ouvir e me ver — SE QUALQUER UM OUSAR ME TIRAR DA MEDITAÇÃO HOJE, ANTES DE EU TER DECIDINDO, VAI SE VER COM O CALABOUÇO E MINHA FÚRIA
Olhei para meu pai e depois para a criada que estava atrás dele então fechei a porta na cara para os dois a trancando logo em seguida.
Tirei o vestido voltando para minha busca anterior, mas pude ouvir meu pai por trás da porta
— ela só é dramática, não se preocupe — ele fez uma pausa — só não vamos interrompe-la hoje, ela merece tempo
Tentei não ficar com o coração pesado com o que eu fizera, mas meu modo de pensar era longe do Castelo e perto de Oliver.
Continuei forçando o candelabro até finalmente ele ir para um dos lados, como mágica — quem me dera existir mágica — uma parede falsa se abriu para trás dando entrada a um túnel escuro, sujo e um pouco estreito, peguei um manto velho que roubara de uma criada uma vez e entrei sem pestanejar, segui o caminho com ratos e baratas até que o caminho se partir, agora em duas entradas, esquerda como um breu ou direita com umas faixas de luz coloridas — eu tinha lido muito terror para saber qual seguir e o porquê — continuei pela direta, me batendo em umas teias de aranha, até chagar em uma via movimentada e escondida da cidade, pus o capuz e sai normalmente com a cabeça abaixada
Estava perto do cas e perdida para onde deveria ir, até uma mão forte me segurar pondo a outra mão em minha boca para não gritar me levando até um beco, eu me debatia e esmurrava os braços mas nada funcionava, então mordi a mão que estava em minha boca, isso o fez me soltar e gemer de dor, tempo suficiente para eu pegar o canivete, mas então estreitei os olhos e vi suas feições pondo o canivete de volta na bota
— tinha que ser você — disse rolando os olhos
— e você continua com a mordida forte não é mesmo? — Oliver via um pouco do sangue sair e embrulhou a mão em um pedaço de pano que arrancou de suas roupas
— há quanto tempo Oliver — dei um sorriso — nunca pegue uma mulher desse jeito, a não ser que queira que ela te mate
— como conseguiu sair do castelo? Da última vez seu pai a prendeu na torre igual uma princesa de conto de fadas
— tenho meus meios — disse dando de ombros com um sorriso de orelha a orelha — vamos andar? Preciso pensar
— claro
Coloquei o capuz de novo e saímos do beco indo a qualquer lugar que não fosse perto daquela fortaleza.
Andamos sem dizer uma palavra e a única coisa que preenchia o silêncio era o povo dando ofertas, capitães conversando e paquerando mulheres e uma briga logo a frente, peguei Oliver pelo braço o puxando a fim de ver o que estava acontecendo
— Felicity, não é muito bom chegar perto nas brigas de rua — Oliver dizia com medo me puxando para o lado oposto
— é uma pena que ache isso, e não diga meu nome, aqui eu sou Anny — o puxei mais ainda até ele desistir e chegarmos no núcleo do que estava acontecendo — sabe quem são? — dizia para Oliver ao meu lado
— talvez a mulher, ela tem cara de ser pirata. Olhe as tatuagens — ele apontava discretamente para as tatuagens no braço direito da mulher — já ele, deve ser um bêbado que não pagou com quem não deveria ter dívidas
A briga se estendeu até a mulher subir em cima do homem que parecia mais forte que ela, o povo ao seu redor gritava e assobiava, mais gente chegou e aquilo virou uma zona de guerra.
A mulher socava a face do homem repetidas vezes até ele sangrar — jorrar sangue para todo o lado — e ela repetia as mesmas coisas para ele
— quero meu dinheiro — e também — não mexa com minha tripulação, seu rato de esgoto podre
A briga só acabou quando policiais chegaram e eu e Oliver tivemos que correr até algum lugar longe daquilo, continuamos correndo até entrar em outro beco e nos certificar que a polícia não estava atrás de nós como apoiadores de gangues ou qualquer que seja o motivo
— ufa... — Oliver suspirava tentando manter a respiração e seus pulmões no lugar — nunca mais me puxe para uma briga, sua doida de pedra
— mas foi legal, não foi?! — minha respiração oscilava
— você ainda vai me matar
Eu ri e saímos do beco nos certificando de não ter mais ameaças por alí, fomos até uma praia vazia perto do cas de navios e barcos, sentamos na areia por um momento e eu tive a sensação de não ser dali, tive a sensação de que estava livre da corte, das regras, do meu pai, do conselho, de tudo, eu era eu de novo, não era Felicity a princesa que iria ser coroada, ou a mais bela dos quatro reinos. Eu estava livre e não queria voltar, estava bem ali
O sol me esquentava, o vento gélido e salgado beijava meu rosto e esvoaçava meu cabelo, eu olhei para Oliver e depois voltei minha visão para o mar
— tem como um barco aceitar uma princesa? Para fugir
— está louca? — ele me olhou — se quiser fugir tem que ser disfarçada, na primeira oportunidade dos cidadãos te dedurarem para o rei a troco de algumas moedas de ouro, eles o farão!
— mas eu posso ordenar que... — ele gargalhou
— o povo precisa de moedas, de dinheiro, estão passando fome
— como assim passando fome? — eu o olhei confusa
— depois que a rainha morreu o reino tem passado por uma crise. Seu casamento com o príncipe é a única coisa que pode resolver isso — ele explicou — com seu casamento o reino de Nosirion vai pagar uma enorme quantia para o reino poder se reestabelecer
— como você sabe? E como soube tanto?
— meu pai é o sapateiro real lembra? — ele se levantou me dando a mão, eu a peguei e levantei da areia sacudindo minhas roupas — ele sabe de muita coisa
— pelo visto eu sou a desinformada — ri
Depois da minha aventura pelo reino com Oliver eu estava de volta no meu quarto, a banheira com água quente estava acima de meus seios e meu cabelo estava preso em um coque no alto da cabeça.
As criadas estavam cheias de mim, então estava sozinha no quarto. Eu e meus pensamentos
O fato de meu pai não me contar sobre a situação do reino me quebra o coração. Desde que me lembro por gente meu pai tem me preparado para ser rainha — ouso dizer que me preparado demais — nunca brinquei com outras crianças ou me distraia do "trabalho"
Geografia, estratégias de guerra, matemática, álgebra, história, línguas estrangeiras — Inglês, Francês, Italiano, Mandarim, Japonês, Espanhol e Russo —, sem falar na etiqueta, luta com espadas e luta livre, português e cavalgada. Se as matérias normais são terríveis, imagina matérias de um rei ou rainha.
De repente minha atenção se volta para a moça de braço tatuado na luta livre de hoje, ela me parecia tão elegante e selvagem ao mesmo tempo, e de algum modo eu senti a água esfriar e meu corpo esquentar bruscamente
Saio da banheira com a ajuda de Luiza e me visto para ir a sala de jantar. Durante o caminho ao jantar eu passo por uma parte do castelo sem barreiras e alta, vejo o mar iluminado por causa da lua cheia e os barcos ancorados, vejo um pouco da cidade iluminada e dá pra sentir eles festejando. Então eu ouço Oliver em meus pensamentos O povo precisa de moedas, de dinheiro, estão passando fome, só não entendo como, não era para isso acontecer
— Sua alteza imperial e real? Está tudo bem? — Luiza fala, baixo
— ah... sim! — saio de meus devaneios
— sua majestade está esperando na sala de jantar, sua alteza pretende recusar o pedido e comer no quarto?
Me viro para olhar a camareira
— não, muito obrigada. É capaz de algum rumor chegar a seus ouvidos de novo, não queremos repetir os mesmos erros, não é mesmo?! — dou um sorriso, Luiza abaixa a cabeça e voltamos a caminhar
Eu sempre fui instruída a ter modos perfeitos, sempre ser bonita e inteligente, mas a como lidar com os criados de minha corte, em específico, eu aprendi sozinha
Chegamos a sala de jantar e meu pai estava devorando um prato enorme de comida, mau chego perto da mesa e sou enchida de perguntas
— já considerou o casamento? — não o respondo e me sento a mesa, espero ser servida e então respondo
— deveria reformular sua pergunta. O certo seria “Vai aceitar a parceria do príncipe Oliveir?” a resposta seria: “sim, eu me submeteria a tal sofrimento”
Seus olhos brilharam, mas logo escureceram assim que eu abri a boca de novo para falar
— mas mudei de idéia, tenho condições para isso acontecer
Comi minha carne e salada, sem me
importar se meu pai estava me olhando
furioso ou ansioso. Mastiguei bem minha
comida e engoli, assim olhando para meu pai calmamente
— uma, EU escolho as coisas para meu
casamento, dois, eu não ligo se ele gostar ou não, vou liderar TUDO, como uma governante e três, a partir de AGORA eu quero estar apar de tudo que acontece no reino. Sem excessão

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